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quarta-feira, 7 de novembro de 2012

O namoro

Foi numa manhã, dessas que a impaciência vem junto com o barulho do despertador, que o sono não se despede e o café já está frio quando a buzina do padeiro te chama. Havia apenas uma semana que estava naquele trabalho, uma loja de consertos eletrônicos, ganhando pouco. O mínimo para manter a escola do meu filho Thiago, mas o suficiente para me afastar do inferno que rondava a casa onde eu me escondia do mundo. Naquela época eu sonhava com a faculdade de medicina, com um casamento de princesa, com uma casa ladeada por uma varanda circular onde todos os meus netos iriam correr um dia para ouvir as histórias contadas pela avó, enquanto vovô cochilava. Devaneios. Ilusões que o tempo refaz.
Lá estava eu aguardando pela milésima vez o meu patrão para abrir a loja. Ele parecia louco,eu não podia me atrasar, mas  a loja não tinha hora para abrir. Estava impaciente, andava de um lado a outro, olhando para todos os ônibus que paravam, cansada de esperar sem a certeza de sua chegada.
Não percebi que um rapaz me olhava insistentemente até que ele, brincando, disse que eu cavaria uma vala no chão, andando daquele jeito. Começamos a rir e iniciamos uma bela amizade. Por algumas semanas foi o que nos uniu: boa conversa, boa companhia e muito bom humor.
Logo essa amizade virou necessidade. Estávamos o tempo todo grudados, fazendo planos, nos amando madrugada à fora, perdendo a hora. Ganhando vida numa paixão alucinante que nos tirava o sono, a fome e o medo de arriscar. Em seis meses, nossa paixão ganhou força, se agigantou e enfrentaríamos, como Romeu e Julieta, qualquer dificuldade.
Nessa altura tínhamos nos misturado como café com leite, já não existia segredo, mentira. Só amor. Devaneios. Ilusões que o tempo refaz.
Nossos planos incluíam a adoção do meu filho, logo após o casamento, assim que comprássemos os móveis e arrumássemos nossa casa. Casamento na igreja, simples porém, tradicional. Sonhos que a maldade destrói.
Estávamos procurando uma casa para alugar e iniciar o nosso projeto de vida. Tudo no devido tempo, sem pressa pra que fosse bom para todos. Nossos sonhos nunca foram egoístas. Pensamos em tudo: na mãe e irmão dele que teriam que morar conosco, num quarto para o Thiago, na escola dos dois, no trabalho da mãe. Devaneios particulares não compartilhados. Sonhos que a maldade destrói.
Foi num sábado ensolarado, desses que o calor amolece os sentidos, já sabíamos o que fazer: encontramos uma belíssima casa, com duas saídas que traria privacidade para nós e para minha futura sogra e seu filho. Estávamos felizes pois,  teríamos duas casas pelo preço de uma. Mas era pouco pra quem quer tudo...
(continua amanhã)

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