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quarta-feira, 21 de novembro de 2012

estatutos do homem (Thiago de Melo)

 Fica decretado que, a partir deste instante, 
   haverá girassóis em todas as janelas, 
   que os girassóis terão direito 
   a abrir-se dentro da sombra; 
   e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro, 
   abertas para o verde onde cresce a esperança. 
  



   Fica decretado que os homens 
   estão livres do jugo da mentira. 
   Nunca mais será preciso usar 
   a couraça do silêncio 
   nem a armadura de palavras. 
   O homem se sentará à mesa 
   com seu olhar limpo 
   porque a verdade passará a ser servida 
   antes da sobremesa. 


(...)


  Por decreto irrevogável fica estabelecido 
   o reinado permanente da justiça e da claridade, 
   e a alegria será uma bandeira generosa 
   para sempre desfraldada na alma do povo. 
  


   Fica permitido que o pão de cada dia 
   tenha no homem o sinal de seu suor. 
   Mas que sobretudo tenha 
   sempre o quente sabor da ternura. 
  


Fica decretado, por definição, 
   que o homem é um animal que ama 
   e que por isso é belo, 
   muito mais belo que a estrela da manhã. 
  

Fica decretado que o dinheiro 
   não poderá nunca mais comprar 
   o sol das manhãs vindouras. 
   Expulso do grande baú do medo, 
   o dinheiro se transformará em uma espada fraternal 
   para defender o direito de cantar 
   e a festa do dia que chegou. 
  
  Parágrafo único: 

  
           Só uma coisa fica proibida: 
           amar sem amor. 


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