Durante 2 anos estive deprimida. Porém esse estado era compartilhado somente pelos meus filhos que sofreram junto comigo toda essa violência doméstica.
Costumo dizer aos meus amigos, que Deus me observava de perto aguardando o momento certo de agir. Mas ele precisa que tenhamos ânimo. As mãos de Deus estão estendidas, mas nós temos de começar a caminhar. Eu não tinha forças para dar esse primeiro passo.
Eu posso afirmar que tenho uma amiga enviada por Deus para me empurrar. Hoje ela mora em São Paulo, está muito longe de mim em quilometragem. Mas não poderia estar mais próxima, já que está bem guardada dentro do meu coração.
Quando eu havia perdido toda a esperança, força de vontade, amor próprio e ânimo, Deus olhou pra mim. Enviou um anjo maravilhoso em forma de amiga pra me resgatar do meu cansaço.
Recebi a ligação pela manhã, e meu anjo perguntou se eu gostaria de voltar aos
estudos. Disse-lhe meio insegura que sim. Este foi o primeiro passo para minha vitória.
Ainda desanimada, procurei o colégio indicado, para iniciar o ensino médio no Curso Normal. Estava perdida, sem rumo, totalmente insegura. não queria ficar longe dos meus filhos, e o horário das aulas não coincidia com o horário dos meninos. Pensei em desistir. Mais uma vez Deus intercedeu: o meu filho mais velho, vendo minha indecisão convidou-me a estudar em seu colégio, na sua turma para estarmos juntos na escola e no caminho para casa. Realmente, devido à depressão eu tinha medo de sair de casa sozinha.
Quero deixar claro uma coisa: não tínhamos a noção de depressão. Não fomos a nenhum médico diagnosticar, nem ao menos utilizei medicação. Entendemos como depressão por causa do meu estado de espírito. Sempre triste, angustiada e desanimada.
Procurei a escola dos meninos e migrei pra lá, para o curso de Formação Geral. Aos 36 anos de idade numa turma de Formação Geral em meio a adolescentes. Não esperava muito desse curso. Na verdade, era apenas um meio de estar fora de casa, pensando coisas novas, estimulando meus sentidos, determinada a encontrar significação para minha vida.
Mergulhei de cabeça nos estudos, me envolvi com o Grêmio escolar, me elegeram a representante da turma, comecei a defender os direitos dos meus colegas.
Eu naveguei num mar desconhecido e sem bússola, mas Deus já havia escolhido o caminho. A turma composta de adolescentes era muito agitada, porém aceitavam os meus conselhos e rapidamente estavam controlados e nossas aulas tornaram-se mais tranquilas. Foi então que a professora de Biologia aconselhou-me a cursar o Normal alegando que eu tinha bom manejo de turma. Acatei o seu conselho e no 2º semestre já estava matriculada.
No ano seguinte, ainda muito deprimida, iniciei o Curso Normal, aos 37 anos, numa turma de meninas. Era um bichinho do mato, assustado, escondida no fundo da sala, tentando aparecer o mínimo possível. Minha auto-estima ainda estava muito baixa. Além disso, para dificultar meu acesso à escola meu marido diminuiu a contribuição nas contas da família gerando a necessidade de que voltasse a trabalhar. Porém, não havia horário conciliável. Mesmo assim não desisti.
Com meu filho mais velho aprendi a técnica de esfumaçar com papel de revistas. Desenvolvi a técnica, aprimorei e criei inúmeras utilidades como capas de caderno, capas de trabalho e papel de carta. Vendia na própria escola. Rendia pouco, mas dava pra comprar as apostilas e pagar as provas e material escolar. Por muitas, mas muitas vezes mesmo, as meninas da turma pagaram prova, material de trabalho e até lanche pra mim. No entanto eu continuava triste. Deus precisava me enviar outro anjo pra terminar o trabalho.
Meu segundo anjo chamava-se Maria Cecília, era professora de Psicologia. Foi apresentada à turma numa 3ª feira, nublada, fria. Quando Maria Cecília entrou na sala, trouxe consigo o esplendor e o calor do sol. Sua roupa colorida trouxe alegria e seu sorriso era encantador.
A primeira proposta de atividade foi desenhar, secretamente, o primeiro animal que lhe viesse à cabeça. A folha de papel ofício pesava em minhas mãos, pois eu não conseguia pensar em nenhum animal para desenhar. timidamente, fui até a mesa da professora e contei-lhe a minha dificuldade. Ela disse para desenhar a primeira coisa que viesse à cabeça. Qualquer coisa.
Prosseguindo com a dinâmica, cada aluna deveria mostrar seu desenho e explicar porque o escolhera, o pensamento que tivera enquanto desenhava. Uma a uma, as alunas foram mostrando seus desenhos e falando sobre ele.
Quando chegou a minha vez, mostrei meu desenho, envergonhada e disse não sei porque desenhei isso!
As meninas riam, zombando de mim.
Maria Cecília, com a voz de um anjo, iluminada, disse:
Prosseguindo com a dinâmica, cada aluna deveria mostrar seu desenho e explicar porque o escolhera, o pensamento que tivera enquanto desenhava. Uma a uma, as alunas foram mostrando seus desenhos e falando sobre ele.
Quando chegou a minha vez, mostrei meu desenho, envergonhada e disse não sei porque desenhei isso!
As meninas riam, zombando de mim.
Maria Cecília, com a voz de um anjo, iluminada, disse:
Ah! meu passarinho,você está tão acuado, encolhido no fundo da gaiola, que não aparece e não vê a saída!
Eu comecei a chorar, a turma silenciou.
O meu desenho era uma gaiola sem porta e sem janela, com uma alça em cima. A professora explicou o significado:
A gaiola sem portas e janelas significa que você está presa e não vê saída, a alça da gaiola significa que você se sente controlada, dirigida, sem direito de ir e vir. mas você quer voar! E quando você voar não será como um pequeno pássaro medroso e assustado. Você voará como águia, altiva e poderosa! E alcançará as alturas.
Depois disso muita coisa aconteceu. Mas eu conto depois.
Até breve!
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