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quinta-feira, 22 de novembro de 2012

faxina necessária



"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos."
Fernando Pessoa


Ontem foi o meu terceiro dia de terapia, como sempre lavei minha alma com lágrimas!
Chegou a hora de começar a arrumar a minha casa interior, mas como faxina é algo muito cansativo pode ser que eu me demore um pouco pra ajeitar tudo.
Comecei jogando fora algumas flores que estavam murchas e a água que eu já não trocava há tempos exalava um cheiro ruim em minha casa!
Algumas pedras estavam espalhadas no jardim, o mato alto escondendo as flores pequeninas e frágeis que insistiam em guardar um pouco de beleza, parece que esperavam a minha decisão em buscar o belo que ainda restava. Não toquei neles, ainda preciso manter as janelas fechadas.
Roupas amarrotadas, puídas que alimentam traças nos armários e já tiveram seu tempo de uso. Até as palavras que foram ditas por aqui precisam ser deletadas do meu arquivo mental. Do coração, muitas lágrimas ainda tem que jorrar pra limpar de verdade e tão profundamente que renove a minha alma! Papéis, muitos papéis jogados em todos os cômodos. Papéis que eu interpretei sem ler o script, versos medíocres que eu amassei, cartas que nunca tive coragem de enviar. documentos que mantém a minha prisão: carta de alforria que não foi homologada, alvará de soltura sem carimbo do carcereiro...
Ainda não é hora de buscar objetos perfeitos que joguei fora sem valorizar. Precisarei limpar com paciência e cuidado pra não danificar o que ficou intacto.
As regras que ficaram tatuadas em mim,durante a cirurgia vão doer demais, mas sei que é preciso contornar essas pedras e buscar outro caminho.
Tenho muito medo. A bagunça já esta instaurada, organizar tudo dá trabalho. A primeira arrumação ás vezes não dá certo e a gente fica mudando o móveis de lugar por horas sem ficar satisfeito com a arrumação.
E tem ainda os fantasmas que habitam essa casa que eu preciso expulsar. São cruéis e zombeteiros, riem da minha cara e insistem em ficar! Deles é que tenho mais medo. Eles tomam a forma das pessoas que amo e paralisam minhas ações.
Preciso abrir as janelas no andar de cima, olhar para o céu e tomar coragem pra abrir todos os cômodos:varrer casa fechada levanta muita poeira.
Preciso dar sentido a essa organização,trazendo de volta as promessas que me fiz, a família que Deus me deu, amizades verdadeiras que construí e criar novas regras que mantenham a casa limpa!

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