Não sei se realmente sonhei aquilo que conquistei, ou se eu queria mesmo era ser uma simples e pacata dona de casa. Talvez até alienada, tonta, que não conseguisse distinguir o caráter das pessoas, que fosse ingênua o suficiente pra feliz sem muita luta, sem muita cobrança e sem expectativas.
Não sei se realmente eu queria a profissão que tenho, as lutas que travo com um sistema falho, pré construído e que tira a minha autonomia profissional e que desrespeita a minha experiência, meus conhecimentos e os anos de estudo. De que me valeram as noites insones elaborando trabalhos, de que me valeu tanta correria pra não chegar atrasada nas aulas, e tanto projeto, e planos de curso, dinâmicas de comportamento pra estimular a formação de valores. De que me valeram os valores, se quem ocupa o meu lugar não vale nada?
Escutei, sempre escutei mas agora escuto mais, que sou uma vencedora!
O que eu venci? A falta de grana pra terminar a monografia sem internet e impressora em casa, três filhos no meio de um casamento falido, estudando à noite e trabalhando em dois turnos.
Hoje eu me pergunto o que eu venci? Não há vencedores nessa porra de vida. Há apenas pessoas que insistem e pessoas que desistem e muitas vezes eu pensei em desistir porque estava cansada, porque estava com fome, porque, simplesmente queria ter tempo pra rir.
Hoje eu me pergunto quanto tempo eu dediquei pra mim? Será que era pra mim ou era pra provar pra alguém que eu era capaz? Essa vaidade fodeu com a minha vida.
Estou com depressão, tomando Rivotril e Pondera, chorando quase dias inteiros, sem vontade de tomar banho ou de sair de casa, sem vontade de comer, de namorar, de viver.
Hoje me pergunto, olha como estou cheia de perguntas, será que eu escolhi viver fora do ar pra não assistir ao caos que se instala á minha volta ou será que tenho dores represadas que preciso chorar até secarem - se as lágrimas?
O que será que eu quero? De verdade! Por mim e pra mim! Que escolhas ainda são possíveis?
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