Hoje foi o meu segundo dia de terapia. Conversamos sobre a minha infância. Sobre a construção da minha história de vida. De como conduzi minhas escolhas abrindo mão de mim para agradar aqueles a quem amava. De como pequenas coisas, pequenas injustiças maltratam tão fortemente o meu coração.
Falamos de construir uma história nova, realmente minha, de reaver os sonhos que são meus.
Eu disse que queria pintar quadros, ela achou ótima a ideia.
Vou partir desse sonho. Ele será para mim terapia, resgate de auto estima e o amanhecer de uma nova vida!
Entendi que toda história da minha vida não foi escrita por mim. Que quase todas as minhas escolhas não foram exatamente escolhas minhas.
Hoje estou passando por um período de depressão, não consigo fazer minhas escolhas sempre. Meu marido me ajuda, meus filhos me ajudam, pessoas que realmente me amam me ajudam.
Hoje meu filho escolheu um filme, há muito tempo eu não sabia o que era rir. Minha sobrinha não pode vir me acompanhar até a terapia. Tive que escolher entre ir sozinha e enfrentar o medo ou ficar em casa e continuar com medo, prostrada como um doente terminal. É o que tenho sido até hoje.
Decidi ir sozinha, chorei assustada no ponto do ônibus, mas entrei nele e fui. Corri do ponto onde desci do ônibus até o prédio da terapeuta, subi correndo os três andares, cheguei ofegante e assustada mas tive minha primeira vitória! Voltei também sozinha para casa. Cansada, deprimida pelas lembranças que a terapia trouxe, porém iluminada pelo desejo de vencer um inimigo tão poderoso. Tenho consciência das dificuldades que vou passar. Terei que encarar o medo do invisível ainda muitas vezes. Talvez eu chore de medo como chorei hoje. Mas faz parte da cura.
Estou disposta a lutar.
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