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terça-feira, 29 de janeiro de 2013

A morte e o luto


A morte é caracterizada pelo mistério, pela incerteza e, conseqüentemente, pelo medo daquilo que não se conhece, pois os que a experimentaram não tiveram chances de relatá-la aos que aqui ficaram. Todos esses atributos da morte desafiaram e desafiam as mais distintas culturas, as quais buscaram respostas nos mitos, na filosofia, na arte e nas religiões, buscando assim pontes que tornassem  compreensível o desconhecido a fim de remediar a angústia gerada pela morte. 


A morte tem um papel de grande relevância nas sociedades. Para ilustrar tal afirmação Giacoia (2005) afirma que a maneira como  uma sociedade se posiciona diante da morte e do morto tem um papel decisivo na constituição e na manutenção de sua própria identidade coletiva e,conseqüentemente, na formação de uma tradição cultural comum. 

A morte para os cristãos era um estágio intermediário, um sono profundo do qual acordariam no dia da ressurreição, quando as almas voltariam a habitar os corpos. 
É devido a essa crença que os cristãos há muito tempo enterram os corpos dos defuntos 
com grande escrúpulo. “Essa idéia introduziu uma nova percepção e poupou gerações ao longo de séculos da idéia aterradora do fim definitivo” (FLECK, 2004, p. 1999 Apud 
GIACOIA, 2005). 

"Depois dos funerais, o luto propriamente dito. O dilaceramento da separação e a dor da saudade podem existir no coração dos pais, irmãos , amigos e parentes. Porém, segundo os novos costumes, eles não os deverão manifestá-los publicamente.
 As expressões sociais, como o desfile de pêsames, as “cartas de condolências” e o trajar luto, por exemplo, desaparecem da cultura urbana. Causa espécie anunciar seu próprio sofrimento, ou mesmo demonstrar estar sentindo-o. A sociedade exige do indivíduo enlutado um autocontrole de suas emoções, a fim de não perturbar as outras pessoas com coisas tão desagradáveis. "

Fica claro que na cultura ocidental a ruptura ocorrida a partir da segunda metade do século XX, na qual a morte deixa de ser “familiar”, “doméstica” e passa a ser um “tabu", algo no qual o homem pós-moderno tenta fugir, a fim de não lidar com a mesma. Porém, a sua condição de mortal não permite  que esta “fuga” seja bem sucedida, pois esta faz parte do ciclo vital, de forma que o homem terá que lidar com a morte dos seus entes queridos e por fim enfrentar a própria morte.  
É evidente que, embora esta atitude de não lidar com a morte não evita que esta o atinja, porém impede é que o homem crie meios de enfrentar e elaborar aquilo que é 
inevitável, pois tal como diz o ditado popular “a maior certeza que o homem pode ter é que um dia há de morrer”.

Por mais que se abomine a morte, ela é o grande momento da vida do ser humano. Na morte, o homem completa a vida. Não existe viagem sem chegada. Não existe caminho sem destino. Não existe vida sem morte. Não se refletindo sobre o mistério da morte, não se reflete sobre o mistério da vida (ÁRIES, 1988).


Mas, no morrer, todos nós somos insubstituíveis. Esta possibilidade extrema e mais íntima do existir do homem, a de morrer, é por ele percebida, desde cedo, como sendo a mais certa de todas as suas possibilidades, entendida como ser mortal. Ele, o homem, é provavelmente o único ser vivo que sabe com certeza do seu ser mortal e do seu ter que morrer (BOSS, 1988).

Acontece quando as pessoas têm sintomas e comportamentos que constituem uma dificuldade para elas, sem que reconheçam que eles estão relacionados com a perda que sofreram. As pessoas desenvolvem sintomas não afetivos que, na realidade, são equivalentes afetivos do luto. Quando as pessoas não expressam abertamente os sentimentos reativos à perda de uma pessoa amada, o luto que fica por manifestar acabará por se expressar totalmente de uma outra maneira. O luto mascarado ou reprimido pode revelarse de duas maneiras: mascarado através de um sintoma físico ou de um comportamento estranho ou desaptativo. As pessoas que não se permitem expressar diretamente o luto podem desenvolver sintomas médicos semelhantes àqueles que foram manifestados pela pessoa que morreu, ou qualquer outra queixa psicossomática. Para além dos sintomas físicos, podem existir também outras manifestações de luto reprimido – este pode estar mascarado de sintoma psiquiátrico, como uma depressão para a qual não há explicação, ou por outro tipo de comportamento desadaptativo..
(por exemplo,comportamentos delinqüentes).

Facilitar o luto é abrir espaço, motivar e inspirar a troca de sentimentos, favorecendo até para que as gerações subseqüentes possam ter modelos que as facilitem integrar as perdas posteriores.
A vivência de uma perda, em geral, reabre outros ferimentos emocionais, que não estavam totalmente cicatrizados. “A perda é considerada como uma transição, requerendo uma reorganização de vida, e propondo desafios de adaptação que deverão ser compartilhados”. (TAVARES, 2001, p. 43).
A dor de perder não precisa ser sinônimo de amargura. É algo que nos atinge, nos deixa feridos, abatidos, e não tem, necessariamente, que nos derrotar. A dor também oferece a oportunidade de mergulho interior, levando á revisão de valores, projetos e propósito de vida. É um esforço, uma luta, aceitar o que não podemos muda (MCGOLDRICK e WALSH apud TAVARES, 2001).
A grande ultrapassagem é desenvolver a capacidade de transformação dentro de nós mesmos, sem nos trapacearmos. A transformação se dá a partir de uma reflexão consciente. É o reconhecimento da dor que nos direciona para a busca da aceitação.
Em face de qualquer perda significativa, de uma pessoa ou até de um objeto estimado, desenrola-se um processo necessário e fundamental para que o vazio deixado, com o tempo, possa voltar a ser preenchido. Esse processo é denominado de luto e consiste numa adaptação à perda, envolvendo uma série de tarefas ou fases para que tal aconteça.
De acordo com (SULLIVAN apud SANDERS, 1999), o processo de luto oferece ao sobrevivente a oportunidade de se deslindar dos laços da vinculação. Em condições normais, o processo de luto elimina estas vinculações que ameaçam manter as ilusões de amor eterno. O autor vê, portanto, o processo de luto como um mecanismo extremamente valioso e protetor, sem, no entanto negligenciar a dor e o aspecto desagradável que o caracterizam.
Apesar do processo de luto ser aparentemente um mecanismo universal e que se dá em várias espécies, cada indivíduo tem uma forma idiossincrática de o realizar e o processo varia não só de pessoa para pessoa, como também existem diferenças consoante a faixa etária em que o indivíduo se encontra. Desta forma, as crianças e os adolescentes têm características próprias na forma de sentir a perda e de viverem o luto, sendo necessários determinados cuidados específicos (MALLON, 2001; MARCELLI, 2002).
Para Worden (1991) o que normalmente se sente, pensa e se faz perante a perda de um ente querido, são sentimentos comuns no processo de luto como: 1)Tristeza: O sentimento mais comumente encontrado no enlutado, muitas vezes manifestando-se através do choro; 2)Raiva: Um dos sentimentos mais confusos para o sobrevivente, estando na raiz de muitos problemas no processo de sofrimento após a perda; a raiva advém de duas fontes: da sensação de frustração por não haver nada que se pudesse fazer para prevenir a morte e de um tipo de experiência regressiva que ocorre após a perda de alguém próximo (semelhante ao que acontece quando uma criança se perde da mãe e no reencontro e mostra-se zangada em vez de se mostrar feliz e ter uma reação de amor por a ver, devido à ansiedade e pânico sentidos pela criança antes da mãe a encontrar) em que a pessoa se sente indefesa, incapaz de existir sem o outro e experimenta a raiva que acompanha estes sentimentos de ansiedade; formas ineficazes de lidar com a raiva são deslocá-la ou direcioná-la erradamente para outras pessoas, culpando-as pela morte do ente querido ou virá-la contra o próprio, podendo, no extremo, desenvolver comportamentos suicidas; 3)Culpa e autocensura: Normalmente, e principalmente no início do processo de luto, há um sentimento de culpa por não se ter sido suficientemente bondoso, por não ter levado a pessoa mais cedo para o hospital, etc.; na maior parte das vezes, a culpa é irracional e irá desaparecer através do teste com a realidade; 4)Ansiedade: Pode variar de uma ligeira sensação de insegurança até um forte ataque de pânico e quanto mais intensa e persistente for a ansiedade, mais sugere uma reação de sofrimento patológica; surge de duas fontes: do sobrevivente temer ser incapaz de tomar conta dele próprio sozinho e de uma sensação aumentada da consciência da mortalidade do próprio; 5)Solidão: Sentimento freqüentemente expressado pelos sobreviventes, particularmente aqueles que perderam os seus cônjuges e que estavam habituados a uma relação próxima no dia a dia; 6)Fadiga: Pode, por vezes, ser experimentado como apatia ou indiferença; um elevado nível de fadiga pode ser surpreendente e angustiante para uma pessoa que é normalmente muito ativa; 7)Desamparo: Está freqüentemente presente na fase inicial da perda; 8)Choque: Ocorre mais freqüentemente no caso de morte inesperada, mas também pode existir em casos cuja morte era previsível; 9)Anseio: Ansiar pela pessoa perdida, desejá-la fortemente de volta é uma resposta normal à perda; quando diminui, pode ser um sinal de que o sofrimento está a chegar ao fim; 10)Emancipação: A libertação pode ser um sentimento positivo após a perda; por exemplo, no caso de uma jovem que perde o seu pai que era um verdadeiro tirano e a oprimia por completo; 1)Alívio: É comum principalmente se a pessoa querida sofria de doença prolongada ou dolorosa; contudo, um sentimento de culpa acompanha normalmente esta sensação de alívio; 12)Torpor: Algumas pessoas relatam uma ausência de sentimentos; após a perda, sentem-se entorpecidas; é habitual que ocorra no início do processo de sofrimento, logo após tomar conhecimento da morte; pode ser uma reação.











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