Era uma menina tímida, calada para os assuntos do coração. Ele tinha os olhos mais azuis que já havia contemplado, parecia o mar encontrando o céu no fim do dia. Sua voz, qual fortaleza resguardada transmitia a segurança necessária pra reinventar a coragem e lutar contra os vilões que até então povoavam seus devaneios de Cinderela. Aparecera seu príncipe, não mais preso em contos de fada, mas um príncipe real, com voz de príncipe,sorriso de príncipe, cara de príncipe. Só lhe faltavam a capa e o cavalo branco.
Eram horas e horas de suspiros ao som de Roberto Carlos e finais de semana ansiosos pela segunda - feira.Além de lindo, ele era inteligente com um um ar de zombaria mesclado com educação. Não era um príncipe, era um rei.
Semanas se passaram e ele não a viu. Ela fez tranças nos longos cabelos e ele não viu. Ela deixou de lado o uniforme da escola e ele nem aí!
Não havia explicação, nenhum gesto era notado, nenhuma novidade surpreendia, nada!
Em sua timidez, ficou melancólica e ele não viu. Acho que nem soube!
Tentou fazer amizade com amigas próximas e ele apenas a cumprimentou. Sentia-se invisível como um plástico transparente. Seu riso que já era frágil, tornou-se triste. Seus olhares buscavam-se e ela surpreendia-se acorrentada como um ímã,ao silêncio.
Meses se passaram e os olhares se tornaram mais frequentes, os sorrisos tímidos transformaram-se em sonoras risadas de satisfação. Porém suas mãos não se permitiam ao toque, a simples presença, os olhares e sorrisos, o silêncio envolvido na timidez, eram suficientes pra emoção latejante expandir-se e tornar-se felicidade.
O beijo era apenas um desejo pesquisado em revistas e testado em laranjas. Mesmo assim, com os olhos fechados e o sonho envolvendo tudo podia sentir o gosto da língua de chiclete, o toque de seus dedos entrelaçando seus cabelos sedosos e o abraço, o corpo colado, o calor ardendo. Devaneios de um romance comprado no jornaleiro mais próximo.
O tempo passava, o silêncio cheio de receio escondia a algazarra que a paixão fazia dentro do peito.
E assim passaram - se quatro anos. Quatro longos e platônicos anos de ilusão, de delírio, e tentativas de se fazer notar.
O corpo de menina, franzino, buscava relutante as formas de mulher. Os olhos inocentes adquiriram, decididos o dom de encantar, os lábios mostraram que seu silêncio molhado poderia ser provocante.
Em quatro anos a paixão não revelada, não compartilhada,não vivida se fortaleceu.
Não sabia a princesa da luz que seu príncipe encantado também era tímido e todo esse tempo esperava ansioso por uma palavra que fora sempre expressada através de gestos que ele não sabia interpretar.
Tanto tempo perdido, um segredo escondido. O medo nos nega a experiência de realizar os sonhos.
Quantos amores como esse deixaram de ser vividos por causa do medo.
Medo de se arriscar, medo de ouvir um não que é apenas um não!
Era uma uma menina linda! que se tornou mulher e o seu primeiro amor nunca deixou de ser o seu primeiro amor platônico.
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