Nem sei se sou capaz de dar conta até o final, mas preciso falar sobre o assunto pois, faz parte da minha terapia.
Passei, como todas as pessoas passam, por problemas ao longo desses 48 anos. Meus amigos dizem que sou guerreira, que enfrento os problemas de frente e boto a fila pra andar.
Ao casar-me aos 23 anos já era mãe. Meu filho tinha então 2 anos e meio e morávamos com os meus pais até então.
Mudamos para uma pequena casa em Lagoinha, um bairro aqui em São Gonçalo, no Rio de Janeiro. Ainda não dispúnhamos de mobília, mas como todo casal apaixonado, pensávamos que tudo se resolveria facilmente, e até foi mesmo bastante rápida a montagem da casa. Poderíamos ter sido muito felizes. Poderíamos ter envelhecido juntos, poderíamos ter construído uma família. Poderíamos ter sido diferente...
Com apenas uma semana de casados, meu marido chegava do trabalho depois das 22 horas, estava assistindo tv na sala quando ele chegou, a casa estava iluminada apenas pela iluminação que vinha da tv. Ele chamou à porta, eu acendi a luz da cozinha para abrir a porta. No ato de acender a luz meu dedo escorregou e acendi também a luz de fora. Naquele momento, não entendi direito, ele me disse que sua mãe tinha uma amiga que utilizava este artifício para avisar ao amante que o marido estava em casa. Não recebi como uma indireta, pois estávamos morando ali havia apenas uma semana.
Mas os eventos continuaram, o ciúme aumentava à medida que o tempo passava.
Eu trabalhava numa loja de departamentos em Niterói, ganhava um excelente salário. Até hoje não sei se isso o incomodava, pois estava irritado constantemente. Nada estava bom: minhas roupas eram indecentes, meu riso era inconveniente, o amor pelo meu próprio filho, aos seus olhos, era excessivo.
Por causa desse ciúme obsessivo saí do trabalho, mudei minha forma de vestir, me afastei da família e dos amigos. Tentando manter o nosso casamento, procurei terapia de casais, acompanhamento pastoral, conversa, submissão. O ciúme só aumentava. Meu desejo sexual, junto com o amor foi esfriando. Comecei a me afastar cada vez mais.
Aí ficou pior! O ciúme virou desconfiança e a desconfiança virou violência.
Passei noites em claro tentando dar explicação por coisas sem sentido. Ele tinha visões.
Tentamos várias vezes recomeçar.
Por fim, sem a minha aprovação, ele comprou uma casa de posse dentro de uma favela. Foi o golpe final para me afastar de todos os amigos. Nesta altura, minha família já havia me abandonado.
Agora, com 3 filhos pra criar, tornava-se impossível uma separação sem apoio da família, sem trabalho, sem uma formação que possibilitasse um salário digno.
Foi quando senti vontade de morrer pela primeira vez!
Não suportava mais a tortura psicológica, os constantes abusos, a solidão. Além do mais eu via um por um os amigos de infância dos meus filhos, ainda na adolescência, morrendo pelas mãos do tráfico.
Perdi as forças! Passava horas deitada no sofá da sala aguardando a chegada dos meus filhos para o almoço. Isso me manteve viva.
A vida não fazia mais sentido pra mim. Não tinha sonhos, nenhum projeto, nenhum amor, nenhuma perspectiva. Não tinha nada. Esperava, apenas esperava que eles crescessem, e encontrassem cada um o seu caminho, para que eu pudesse morrer em paz.
Foram 2 longos anos, rindo vagamente para enganar a mim mesma empurrando a vida. Por dentro eu chorava copiosamente, o meu fracasso. Por fora eu fingia uma alegria que não convencia. Emagreci. Cheguei a pesar 41 quilos.Quase enlouqueci. Mas venci. Sem a ajuda de meus pais ou irmãos. Somente com a presença e o amor dos meus filhos e muita determinação.